O Relatório Econômico de abril da Turim MFO mostra as consequências da inflação generalizada e destaca como a mudança de postura do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já produziu um aperto relevante nas condições financeiras globais.
Por conta do processo de normalização da política monetária no mundo, os mercados de ações vêm enfrentando severas correções. O que chama a atenção nesta correção de mercado é que a renda fixa, que em geral atua como um contrapeso nas carteiras de investimento, também apresenta um resultado negativo, devido à essa mudança de postura dos bancos centrais globais
Outra consequência do aperto das condições monetárias é a apreciação do dólar, por conta do aumento do diferencial de juros – o que justifica a rápida desvalorização do real em abril.
Nosso Relatório Econômico de março destaca o aquecimento do mercado de trabalho norte-americano, cuja razão entre o número de desempregados e a quantidade de vagas caiu expressivamente no pós-pandemia.
Esse cenário, aliado à persistência da inflação e de uma postura mais hawkish (com viés para o aumento da taxa de juros) adotada pelo Federal Reserve, o banco central americano, tem levado a um aumento expressivo das expectativas para o ciclo de alta de juros.
No Brasil, o real se beneficiou do ambiente de commodities em alta. Após a aceleração dos preços de commodities, o fluxo de capital internacional passou a buscar ativos, especialmente moedas, em economias emergentes.
O escalamento do conflito entre Rússia e Ucrânia tem levado a um expressivo aumento de preços de commodities. No nosso #RelatórioEconômico de fevereiro, explicamos que, além do impacto inflacionário imediato, um eventual corte de fornecimento poderia limitar o crescimento da Europa, por exemplo, grande dependente do gás natural russo.
Nos EUA, a conjuntura de inflação global acelerada e mudança significativa de discurso do Fed fez o mercado precificar um início mais abrupto do ciclo de alta da taxa de juros.
Esse cenário de inflação e taxas de juros elevadas, combinado com o boom de commodities, tem levado a bolsa americana a reverter o seu comportamento, refletindo uma performance mais favorável a ativos de value do que a ativos de growth.
Os mercados de trabalho de EUA, Reino Unido, Japão e Europa convergiram para patamares mais aquecidos e, em geral, próximos dos níveis pré-pandêmicos. No nosso #RelatórioEconômico de janeiro, explicamos que esse movimento tem sido um dos principais vetores da guinada hawkish – viés para o aumento da taxa de juros – dos Bancos Centrais dessas regiões.
No Brasil, o destaque são as propostas de desonerações tributárias para conter a escalada dos preços dos combustíveis. A longo prazo, elas devem implicar em aumento do risco-país e na deterioração das expectativas de inflação, conforme mostrou o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
Além disso, a mais recente ata do Comitê indicou que o ciclo de alta da taxa Selic deve ser ligeiramente mais intenso e duradouro do que o esperado, alcançando taxa superior a 12% a.a. em maio – e seguindo assim por algum tempo.
A variante Ômicron levou a números recordes de casos de Covid-19, mas as internações e mortes não têm acompanhado o mesmo ritmo. No Relatório Turim de dezembro, explicamos que esperamos uma resposta negativa em indicadores de atividade – especialmente dos serviços –, mas que este movimento deve se reverter rapidamente.
Nos EUA, a recuperação do #mercadodetrabalho tem sido rápida. Com emprego e atividade em níveis mais expressivos, o Federal Reserve (Fed, banco central) tem adotado um discurso cada vez mais rígido em relação ao combate da #inflação. A autoridade monetária pretende apertar as condições financeiras, que estão altamente estimulativas.
No Brasil, o atual ciclo de alta de #juros foi muito mais rápido e intenso do que o mercado projetava no início de 2021. O elevado patamar, somado às eleições presidenciais, deve criar um ambiente complexo para os ativos de risco, ao mesmo tempo em que podem criar oportunidades de investimento, com valuations atrativos em diversos casos.
A inflação vem sendo um termômetro importante para os mercados globais. A alta nos preços está atrelada a fatores temporários – como o custo da energia e os gargalos entre oferta e demanda -, além de efeitos dos estímulos monetários e fiscais adotados.
Na bolsa, vale destacar o desempenho negativo dos setores mais sensíveis ao contato social – como aviação, entretenimento e transporte marítimo, que tiveram sua performance atrelada à descoberta da nova variante.
No Brasil, a conjunção de inflação em alta, PIB de volta a patamares inferiores ao pré-pandemia e a descoberta da nova variante do coronavírus ditaram o tom do mês, trazendo ainda mais volatilidade aos mercados.
O cenário interno desafiador levou ainda a uma redução significativa dos múltiplos das empresas listadas em Bolsa de Valores. Muitas, inclusive, já são negociadas em patamar inferior ao pior momento da pandemia, sugerindo que parcela significativa dos riscos para os ativos pode já estar precificada.
Um dos assuntos mais relevantes para a dinâmica do mercado financeiro tem sido a discussão sobre o quão temporária é a inflação que tem afetado vários países, desenvolvidos e emergentes.
A piora nos dados de inflação pode ser atribuída aos choques na cadeia de suprimentos e ao movimento de reabertura das economias. A persistência da pressão inflacionária, mais forte do que se esperava, tem levado os principais bancos centrais a assumir políticas monetárias mais rígidas do que se propunham anteriormente.
A deterioração do arcabouço fiscal também repercutiu nas decisões de política monetária no Brasil, com o BC optando por acelerar o ritmo de alta dos juros.
Apesar do cenário externo favorável, as incertezas no cenário fiscal impactaram fortemente os ativos de risco domésticos, entre eles o mercado acionário – o Ibovespa teve mais um mês de quedas, mesmo com desempenho forte das bolsas globais, inclusive de países emergentes.
No cenário global, os dados mais recentes indicam que o número de novos casos, hospitalizações e mortes causadas pela Covid-19 estão desacelerando, o que tornam mais sólidas as expectativas em torno do avanço da reabertura econômica.
Nos Estados Unidos, o comitê de política monetária (FOMC) mostrou que relevante parte dos membros espera elevação dos juros já no ano que vem. Além disso, o presidente Jerome Powell sugeriu que o processo de tapering (redução da compra de ativos) pode ser iniciado em novembro e terminar no meio de 2022, em um ritmo mais rápido do que as expectativas do mercado.
Já no Brasil, as expectativas de crescimento para 2022 vêm sendo consistentemente revisadas para baixo, à medida em que fatores internos e externos, como a crise hídrica, a incerteza do cenário fiscal e político, a escassez de insumos e a inflação global se apresentam sem uma solução clara no curto prazo.
No cenário global, a terceira onda da Covid-19 tem tido impacto contido sobre a mobilidade nos EUA. Entretanto, o mercado de trabalho do país tem sido impactado pela nova onda da doença, interrompendo temporariamente o processo de reabertura econômica norte-americana.
Na Europa, o principal destaque são as eleições gerais da Alemanha, cujas pesquisas de intenção de voto apontam para um cenário muito volátil e incerto entre os candidatos.
Já na agenda doméstica, a crise hídrica segue preocupante, com impacto imediato sobre o preço da energia elétrica. Ainda que a composição da matriz energética tenha se tornado menos dependente das fontes hídricas nos últimos 20 anos, as hidrelétricas seguem representando a maior fatia da oferta de eletricidade. Assim, o início do período chuvoso em novembro será um divisor de águas para o cenário local.
No âmbito internacional, o PIB do segundo trimestre dos Estados Unidos veio abaixo do esperado, mas revelou um robusto crescimento, liderado pelo consumo. Além disso, a #inflação americana tem surpreendido – mas parte significativa dessa surpresa advém de choques em componentes bastante específicos.
Já na China, a redução da alíquota de depósito compulsório representou um afrouxamento da política monetária. A decisão parece indicar que o PBOC (People’s Bank of China) busca agora um ajuste na margem de sua política, após trimestres marcados por uma postura restritiva.
No Brasil, uma série de fatores como a alta dos preços de commodities, escassez hídrica e perdas agrícolas causadas por fatores climáticos levaram a uma escalada da inflação. No cenário fiscal, um valor mais elevado do que o esperado para o pagamento de precatórios e a expansão de programas sociais representam uma nova ameaça ao teto de gastos.
No cenário internacional, alguns países já têm mais de 60% da população vacinada com pelo menos uma dose. Entretanto, com o surgimento de novas variantes, os casos de Covid-19 têm acelerado. A boa notícia é que as internações e óbitos não estão acompanhando esta aceleração, o que reduz o impacto social e econômico desta nova onda.
Nos Estados Unidos, o FED sinalizou que a taxa de juros subiria duas vezes em 2023 – uma alteração relevante em relação ao comunicado de março, em que havia anunciado estabilidade dos juros. Mesmo assim, a mensagem continua sendo de que o processo de normalização deverá ser lento e gradual.
A mudança no comunicado do FED teve impacto nas commodities que, embora tenham apresentado alta robusta em 2021, sofreram correções relevantes nas últimas semanas.
A combinação de crescimento robusto com taxas de juros de longo prazo bem comportadas nos EUA resultou ainda em uma overperformance relevante das ações de growth (empresas com alto potencial de crescimento no longo prazo). No ano, essas ações vinham tendo um desempenho bem pior do que as de value (empresas que estão com o seu preço considerado abaixo do seu valor intrínseco). Agora, a diferença entre elas teve uma redução significativa.
No Brasil, junho voltou a ser um mês bem positivo para o fluxo de investidores estrangeiros na bolsa. Esse movimento se dá principalmente devido às revisões positivas de crescimento e redução da percepção de risco fiscal com os números esperados mais baixos para a dívida/PIB no final de 2021.
No cenário internacional, a Europa acelerou seu processo de #vacinação, o que gerou um maior otimismo com a retomada da economia do bloco nos próximos meses – em particular com a chegada do verão, onde a atividade no setor de serviços é mais intensa.
Nos EUA, as leituras de inflação de abril e maio surpreenderam as projeções bem para cima e levantam a questão sobre de que forma esses choques podem impactar a política monetária norte-americana.
No Brasil, o PIB do 1º trimestre também surpreendeu e levou a uma rodada de forte revisão para cima nas projeções de crescimento para 2021, que já se encontram em torno de 5,5%.
Por outro lado, o baixo nível de chuvas e uma forte demanda acenderam o alerta de risco de problemas com a oferta de energia elétrica no país, o que se traduz em tarifas mais altas.
Por fim, embora os desafios estruturais do país em termos fiscais não tenham se alterado, as revisões de alta nas projeções de crescimento e inflação resultaram em uma estimativa mais baixa para a relação dívida bruta/PIB no final do ano – o que torna a dinâmica dos próximos anos menos desfavorável.
No cenário internacional, o programa de imunização norte-americano encontra-se bastante avançado. Este sucesso e o forte impulso fiscal de 2021, com a transferência direta de recursos para a população, vêm resultando em um rápido processo de reabertura da economia.
Mesmo com dados fortes, a postura do FED, banco central americano, tem se mantido firme e a instituição já afirmou que deve manter elevado o suporte monetário.
No Brasil, antes dos novos lockdowns anunciados, a atividade econômica vinha mostrando resultados melhores do que o esperado. Destaque para a elevação do IBC-Br, proxy mensal do PIB calculada pelo BC, que em fevereiro já se encontrava 2,3% acima do observado no período pré-pandemia.
Já a #inflação, apesar de algumas surpresas de baixa na margem, permanece pressionada. No curto prazo, com o forte movimento das #commodities, esta pressão deve prosseguir. Mas a ociosidade relevante ainda presente no mercado de trabalho, somada à redução de estímulos fiscais e monetários neste ano, deve mitigar uma aceleração mais consistente dos preços.
Em março, Estados Unidos e Reino Unido se destacaram por seu ritmo de vacinação, enquanto a União Europeia seguiu bem atrás. Essa divergência deve se refletir no ritmo de reabertura e na performance dessas economias nos próximos meses. Essas análises estão no nosso #RelatórioEconômico mensal.
Nos EUA, a última reunião do comitê de política monetária manteve a sinalização da taxa de juros estável em 0% até o final de 2023 – mesmo com resultados econômicos fortes. O mercado, entretanto, segue duvidando desta sinalização, e precifica cerca de três altas.
No Brasil, com os sinais ainda preocupantes da COVID-19 em abril e as medidas restritivas sendo estendidas em vários estados, o início do segundo trimestre deve ser desafiador para a atividade econômica.
No cenário político, os ruídos em torno da trajetória fiscal brasileira, intensificados pelo impasse do orçamento de 2021, têm se refletido nos prêmios de risco na curva de juros. Enquanto o BC insiste em uma normalização parcial da Selic – o que pela comunicação recente significaria uma taxa em torno de 4,5% –, a precificação na curva de juros é de 6,5% no final do ano, chegando até cerca de 10% nos próximos anos.
Em fevereiro, o ritmo de vacinação nos Estados Unidos impressionou por sua velocidade. O desempenho norte-americano foi superior ao europeu, o que deve se refletir em divergência dos crescimentos ao longo dos próximos meses, com uma reabertura mais rápida dos EUA. Já no Brasil, as novas medidas de lockdown devem impactar a retomada da economia. Essas análises estão no nosso #RelatórioEconômico de fevereiro.
Ainda na agenda externa, a aprovação de um pacote de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão também impactou os mercados. Este desembolso do governo, somado à reabertura da economia e a política monetária muito acomodatícia, deve produzir uma forte aceleração do crescimento norte-americano ao longo dos próximos trimestres.
No cenário doméstico, o Banco Central (BC) deve anunciar uma alta da taxa básica de juros ainda em março. Um dos principais motivos para essa perspectiva é a piora nas perspectivas de inflação.