Poucos dias após o anúncio das “tarifas recíprocas”, o presidente Donald Trump veio a público para postergar a data de início das alíquotas específicas por país – mantendo, por ora, apenas a tarifa mínima de 10% sobre todas as importações, com exceção da China. Após uma rodada intensa de retaliações, ambos os países passaram a impor taxas acima de 100% sobre suas respectivas importações, o que na prática deve inviabilizar qualquer relação comercial direta entre os dois países.
A teoria econômica sugere que o aumento de tarifas sobre importações se reflete em um deslocamento para cima da curva de oferta agregada, implicando em queda da quantidade transacionada e aumento dos preços ao consumidor final, mesmo supondo uma curva de demanda agregada estável. Esse movimento torna os itens produzidos internamente mais competitivos frente ao mercado internacional e gera aumento da receita tributária – no entanto, tende a reduzir o bem-estar das famílias de forma mais do que proporcional, ainda que isso dependa da variação cambial e, em grandes economias, da eventual queda dos preços internacionais.
No gráfico desta semana, representamos (de forma bastante simplificada) os efeitos isolados – sem considerar retaliações e efeitos de segunda ordem – de uma tarifa ampla de 10% sobre todas as importações e outra tarifa específica de 100% sobre bens importados de um único país. Nota-se que o aumento da tarifa ampla eleva os preços internacionais e reduz a quantidade transacionada, mas a tarifa direcional de 100% desloca a curva de oferta a um ponto em que não há intersecção com os preços internacionais, tornando inviável o comércio entre as partes. Nesse sentido, qualquer alta adicional sobre a tarifa específica se torna irrelevante.
View of the Week é uma série semanal da Turim que, a partir de um gráfico, apresenta análises e reflexões sobre diversos tópicos relacionados ao mercado, economia, história e tendências.